
28 segunda-feira jul 2014
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21 segunda-feira jul 2014
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inDA NOITE, DO AMOR E DA VIDA
A noite chega de mansinho no inverno tropical, agradável, acolhedor. E sonhos vêm com ela. Para os conturbados do espírito, é antessala do inferno de mil demônios, possessão de fantasmas errantes com o seu arrastar de correntes e seus gemidos sepulcrais perdidos na solidão psíquica dos desvairados. Para os aquietados do espírito, belezas aladas cruzam-na, suaves, de mãos dadas com os mais delicados sonhos; ela é repouso de desvelos e antevisão de esperanças, prelúdio de dias docemente ensolarados. A luz é gerada em suas entranhas e parida nas manhãs, ainda o tempo carrancudo, dos iluminados do bem.
E os sonhos dos iluminados do bem induzem o amor, mesmo por imagens indistintas, fugidias, dessas cujos beijos, ansiados, nunca dados, perderam-se por nada, apenas porque foram beijos anelados, não vividos. Há que se amar essas sombras porque são promessas de amor, afagar-lhes os cabelos virtuais esvoaçantes à brisa noturna, contornar-lhes os imaginários olhos luminosos de adoráveis expectativas com um toque delicado, como a redesenhá-los, tocar-lhes os indistinguíveis lábios, esperançosos de dádivas, em beijos táteis. Há que se amá-las até a exaustão dos sonhos, porque o deles desistir é morte em vida que nos faz cadáveres insepultos, como os que não sonham, nunca sonharam, são pragmáticos, pessoas “sérias”, como se à seriedade fosse negado o inato pendor para a imensidão do belo ínsito aos humanos, em que pese soterrado, vezes há, por montanhas de rotina e banalidades.
Não se há de renunciar à luz perene gerada nas noites suaves dos sonhos sonhados pelos espíritos venturosos. É fundamental quererem-se eternidades, vagarem-se interseções temporais em busca até mesmo de uma sombra. O vazio do amor é algo enlouquecedor, uma agonia, forma de ansiar por infernos. Para que existências se não for para vivê-lo honesta e lealmente, com entrega e cumplicidade?
14 segunda-feira jul 2014
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inAGRESSÃO À MULHER
Mais de uma vez escrevi aqui no blog sobre a importância capital do advogado na preservação do estado de direito, termos do Artigo 133 da Constituição Federal, e dos cuidados que a Sociedade deve dispensar-lhe por instrumentar sua voz em matéria legal, por se constituir seu representante em assuntos judiciais. Nenhuma sociedade decente sobrevive fora do estado de direito, alter ego da democracia, sem a qual quaisquer manifestações perdem a expressão por perderem a legitimidade. Nesse passo, com inscrição Originária na Seção do Estado de São Paulo e Suplementar na Seção do Estado do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil, tenho procurado trazer aos leitores que me brindam com sua generosa atenção artigos e notícias de interesse geral, e.g., o artigo do então e ilustre Advogado-Presidente da Seção do Estado de São Paulo, hoje Conselheiro Federal da OAB, publicado no mensário da Seccional e reproduzido aqui, como post, com a devida autorização, em 10 de Fevereiro de 2014 (Republicação – Queira ver). Não faço isso com frequência por não me sentir à vontade; não cabe utilizar de público, a cada momento, a preciosa fonte de orientação compreendida pelos Jornais das Seccionais. Essas considerações iniciais vêm a propósito do artigo de capa do OAB Notícias – Informativo da 16ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil – Niterói – RJ, publicado no último número, mês corrente de Julho, assinado por seu ilustre Advogado-Presidente. Quero alinhar-me ao nobre colega.
A agressão física à mulher, no recesso do lar e/ou fora dele, é apenas uma das facetas da natureza repulsiva de degenerados, manifestação do ódio que nutrem por ela em geral. Há exemplos em que, além de agredi-las fisicamente, pelo que são convocados a Delegacias Policiais em virtude de comprovação inequívoca e oportuna da agressão, ao contrário de meras e levianas imputações, tratam aos berros os filhos da mulheres agredidas, defraldam grosseiramente a inderrogável confiança do casamento, humilham mulheres em razão da cor negra de sua pele, e por isso são condenados, tratam suas mães, generosas e superprotetoras, como serviçais, induzindo-as, inclusive, a práticas ilegais, laboram em obter vantagens ilícitas em face de mulheres simples do povo, sendo por isso processados após regular inquérito, oferecimento da denúncia consubstanciada nas apurações do procedimento policial e seu acolhimento pelo Judiciário, mantêm bens em nome de terceiros com o intuito de lesar credores ou postulantes a direitos legítimos, em tal prática envolvendo mulheres, compram carros importados, apenas montados no país, colocados depois em nome de terceiros para elidir a aparência de larga folga financeira, nessa prática também envolvendo mulheres, etc. e etc., a despeito de modestas declarações de Imposto de Renda.
A agressão física à mulher é somente um item do seu amplo cabedal de malevolências, entre as quais se contam a mentira e a dissimulação; por decorrência de sua má índole, nunca de frente, olho no olho, têm o doentio hábito de atribuir a pessoas sérias e honradas o exercício de baixos instintos. Como os seus.
Concordo com o Colega-Presidente. Esses monstros, independentemente de sua classe social, deveriam ver o sol nascer quadrado (sic) ao invés de cumprirem suas condenações, após observado com rigor o devido processo legal, com cestas básicas, por exemplo. Seria altamente educativo ver o “enfant gâté” produto do amor equivocado e indulgente posto em face do mundo real onde vivem criaturas que, ao revés da superproteção que geralmente deseduca e às vezes corrompe, se batem no dia a dia, com toda a dignidade e respeito, próprio e a terceiros, não por televisores caros a serem de roldão espalhados por suas casas ou carros importados, mas por uma sobrevivência digna à custa dos próprios esforços.
Homens e mulheres decentes não vivem de aparências, não têm o que temer ou esconder, franqueiam suas vidas – pessoal, profissional, social, seja sob que aspecto for -, ao exame de qualquer um, apenas exigindo, se resultados negativos “aparecerem”, sejam apresentados acompanhados de prova documental, observado os meios e critérios legalmente aceitos, e por documentos oficiais devidamente autenticados pelas repartições que os expedirem. Por incrível que pareça, há pessoas que se constituem em grupos com o fim específico de denegrir a imagem de outras, atribuir-lhes, por via de regra em “off”, delitos, violações imputáveis da lei penal sem nunca e nada provar. As motivações para assim agirem são diversas, ressentimento, inveja, divergências corporativas e religiosas, etc.. Para não ficar apenas no plano teórico, da dialética enganosa e estéril, apresento-me como uma dessas pessoas que não se assombram pela hipótese de qualquer exame de suas vidas. Será que os meninos mimados e mal-intencionados que agridem mulheres e cometem falcatruas são capazes disso, especialmente quanto ao aspecto jurídico/penal?
Os advogados exercem o seu múnus com os olhos e a consciência pessoal e profissional postos no Artigo 133 da Carta da República. Neste diapasão, têm em mente, antes de tudo e como meta, que fazer justiça implica estrita observância do devido processo legal, que não admite insinuações desinformadas e acusações sem provas e sem a abertura do contraditório. Acusação sem prova e sem a oportunidade do contraditório não é acusação, é futrica.
Eu não acredito no Deus cativo das Igrejas, mas, com Anaxágoras, creio no Noûs, o princípio inteligente que rege o mundo – Deus, em última análise, apenas não convencional -, sem ajudar ou castigar ninguém. Cada um é senhor de sua sorte e este nosso mundo é como uma parede; aquilo que se atira contra ele é aquilo que se recebe de volta. A sabedoria popular é mais direta. Na `vox populi`, aqui se faz, aqui se paga, nem sempre diretamente; às vezes a fatura é apresentada por meio do sofrimento, da desgraça, da desagregação moral e existencial de um ente querido. Não custa conferir.
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07 segunda-feira jul 2014
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A FLOR E O RAIO DE SOL
Após 2 dias de chuvas torrenciais, a manhã surgiu em luminosa explosão no vale exuberante de vida e beleza. Lírios, azaleias agrestes e delicadas margaridas brancas margeantes aos estreitos e sinuosos córregos de águas muito claras a bordar o vale estendido entre as montanhas, misturavam-se à multidão de moitas de capim de um verde quase brilhante estendido aos pendões prenhes de sementes. O ar, agradavelmente seco e limpo, emprestava um tom brilhante aos raios de sol obliquamente projetados ao nascer do dia, agora algo adiantado, mas longe, ainda, de sua metade, um meio de manhã tépido e glorioso na celebração da vida.
— Bom dia, flor, como você se chama?
— Ai, raio de sol, que susto!
— Desculpe, não quis sobressaltá-la. Ao contrário, encantei-me com a sua expressão perdida, com a sua brancura e pureza. Estou verdadeiramente cativado. Você me perdoa?
— Claro, raio de sol. Estou muito feliz por você haver chegado. Estava sentindo uma saudade gostosa e incerta, a rigor uma carinhosa e intuitiva impaciência pela sua vinda.
— Você não me disse o seu nome…
— Margarida.
— Margarida! É um nome bonito, mas não faz justiça à sua beleza, à alva delicadeza de suas pétalas, à alegria que você irradia.
— Obrigada, raio de sol. Quase enrubesço. Você me quer vermelha? É tão delicado e suave. Eu me assustei porque sou uma boba sonhadora; estava pensando na nossa imortalidade.
— Imortalidade, flor?
— Sim, imortalidade. Felizmente, porque o mundo precisa muito de nós para expressar o amor e a paixão, colorir as alegrias, suavizar a morte de entes queridos e aliviar o sentimento de perda.
— É verdade, mas não entendo porque imortalidade.
— Todas as formas de vida existentes na Terra são imortais, raio de sol, através de sua descendência quando se estabelece uma linhagem, sua continuidade e aperfeiçoamento dos seus exemplares pela sucessão e evolução.
— Caramba, flor, como sabe você dessas coisas?
— Geração após geração nós as ouvimos dos humanos nas várias oportunidades nas quais estamos ou estivemos presentes. São coisas que se vão incorporando à memória da nossa espécie, depois ao nosso DNA. Você sabe, raio de sol, o que é DNA?
— Isso eu sei, nós também entendemos a fala dos humanos. Eles falam de muitas coisas, especialmente ao ar livre; quando escavam, fazem pesquisas arqueológicas, eles falam muito desse tal DNA. A gente acaba aprendendo e incorporando essa, como muitas outras coisas em nossa memória, como diz você. Mas tudo isso me entristece.
— Por quê, raio de sol?
— Nós um dia vamos morrer irremediavelmente, nossa fonte vai se apagar. Nós, na realidade, somos projeções do seu estiolar à medida que o seu combustível vai sendo consumido e nós produzidos. Quando o combustível acabar, a casa de nossa ascendência desaparecerá e nós desapareceremos para sempre com ela, não mais seremos úteis para nada.
— Você está enganado.
— Como enganado?
— Quando a casa de sua ascendência esgotar o combustível do seu núcleo ela colapsará, transformando-se em uma anã branca, pequena, mas muito densa e quente, embora de baixa luminosidade, e se porá a irradiar energia até se esgotar completamente e converter-se em uma anã negra.
— Não dá no mesmo?
— Não. Tudo se cria a partir da energia. A vida não se extingue, ela se renova em ciclos. Você sobreviverá, sob outra forma, na forma da energia irradiada pela anã branca, que se transformará na casa de sua descendência e concorrendo para a formação de novos ‘sóis’, novos mundos, novas formas de vida. A partir das estrelas, dos novos ‘sóis’, você voltará a ser projetado. Mas, olha, raio de sol, às vezes você e os seus são muito maus, queimam tudo, as plantas que alimentam, estorricam o solo…
— Você tem razão. Na verdade somos, todos, uma coisa só. Como os humanos, alguns bons, alguns maus, dependendo da hora, época e lugar. Queimamos ali, mas suavizamos acolá. Embora da mesma espécie, temos ‘naturezas’ diferentes, podemos ser abrasadores, mas sabemos também ser suaves.
— Nós também somos como os humanos, raio de sol.
— Também, flor?
— Também. Um dia eu fui uma mulher.
— Não brinca comigo, flor; eu a estou amando muito.
— Eu também o estou amando muito, raio de sol, não estou brincando. Minha linhagem nasceu, começou no túmulo de uma linda mulher sepultada aqui no vale, por isso a minha suavidade e beleza.
— Flor?
— Sim, raio de sol?
— O que faremos do nosso amor?
— Ele será eternizado, raio de sol.
— Como, flor?
— Você me fecundará, eu produzirei sementes que o vento dispersará pelo vale, assegurando a minha sobrevivência para ser novamente fecundada pelos raios de sol que se originarão de você, da energia irradiada pela casa de sua ascendência convertida na casa de sua descendência. Voltaremos a nos encontrar em outros ciclos da vida, em outras existências.
O raio de sol a olhou com ternura. No esplendor da manhã gloriosa em luz ela abriu-se completamente e ele a fecundou. Ficaram juntos por todo o dia. Depois o pôr do sol, o momento do suave escurecer, a paz sobre o vale, um céu de tantas estrelas, tão próximas, que parecia quase se tocarem. Naquela noite mágica, fecundada e feliz, adormecendo, a pequenina flor sonhou sonhos de amor.
© Onair Nunes da Silva