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Arquivos Mensais: julho 2013

E AS POMBAS? TAMBÉM ELAS NÃO VOLTARÃO MAIS? (3)

29 segunda-feira jul 2013

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direito romano, praetorium, roma imperial

Inimagináveis.001

Somos todos, súditos dos países ocidentais e herdeiros da ordenação jurídica romana, um pouco cidadãos da Roma Imperial, quer quanto à rigorosa prevalência da lei, quer quanto aos excessos e arbitrariedades praticados por mandatários comprometidos em sua investidura com a observância dos mandamentos legais por várias formas consagrados.

A barbárie, manifestação da fera, habitante em condomínio com o réptil da sede dos instintos, desvio da espécie, sua alma ainda não evoluída para o espírito, atenuada pela norma legal bem mais por necessidade de controle amplo, impessoal e à distância das populações, prevaleceu por modos diversos neste nosso mundo dito civilizado, por barbárie, para os efeitos desta dicção, entendendo-se o que quer fuja ao controle jurisdicional, às prescrições das normas escritas gerais das Cartas Nacionais e das leis ordinárias.

O controle jurisdicional, inderrogável, tem sede regular e lá, somente lá, pode ser exercido. O Forum, no Direito Romano, em praça pública ou em locais outros abertos aos cidadãos comuns – princípio inafastável -, era o momento ou lugar onde os juízes de ofício o exerciam, não podendo suas decisões, que deveriam ser exaradas com estrita observância das prescrições legais e dos requisitos da verdade, ser ocultadas de nenhum homem (Compilação, Teodósio I, 16:9). O Praetorium era o lugar onde exercido o controle jurisdicional criminal de monta pelo Imperador ou Governadores provinciais, nele compreendendo-se as questões de segurança e os delitos de lesa maiestatis. Suas sedes eram o palácio imperial, quando exercido pelo Imperador, ou o palácio provincial, quando exercido pelos Governadores, que de sua sella – bancos de madeira especialmente modelados – corporificava o poder de julgar e aplicar penas capitais. A dependência onde realizados os julgamentos chamava-se secretarium, definindo a natureza secreta das audiências, cujas decisões, contudo, deveriam ser proferidas tendo por molde a legislação aplicável, os requisitos da verdade e da fundamentação, além do conhecimento geral, da publicidade, é dizer, mesmo em um regime como o romano, de práticas brutais e exclusivistas, mesmo ao Imperador, com status de divindade, sede recursal natural das decisões dos Governadores, e embora a faculdade do julgamento secreto, impunha-se a rigorosa observância da lei regular, a fundamentação de suas decisões e a publicidade. Imperadores legalistas, em expedientes preservados, advertiram, algumas vezes reiteradamente, Governadores que abusavam dos julgamentos secretos e da falta de publicidade e fundamentação de suas decisões.

No Brasil, regido por uma das mais avançadas Constituições do mundo, somente a União, por meio do Congresso Nacional, pode legislar sobre matéria penal; a Carta da República tem insculpida a regra pétrea de que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” (CF, art. 5º, Inciso XXXVII).

____________________

Firmou-se, a partir do início da década de 1950, conceito segundo o qual – clara referência à guerra mundial finda poucos anos antes – novas ‘guerras’ seriam travadas apenas no campo comercial, pela conquista de mercados, a necessidade premente de quaisquer países produtores nos quais as questões econômicas do que e como produzir estivessem já equacionadas, devendo ser assegurado aos excedentes de produção das economias de escala consumidores que os absorvessem, base para o desenvolvimento permanente das nações pesadamente industrializadas, de suas classes sociais, da satisfação dos seus nacionais e, por extensão, para garantia de estabilidade dos seus sistemas de governo e/ou respectivos titulares.

(segue)

E AS POMBAS? TAMBÉM ELAS NÃO VOLTARÃO MAIS? (2)

22 segunda-feira jul 2013

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carl oglesby, Mercado Comum USA/União Europeia, nova ordem mundial

A insegurança é total porque o mundo, tal como desenhado, esgotou-se pelo esgotamento dos seus dois tradicionais maiores polos econômicos, um de cada lado do Atlântico norte, mundo este que já não é seguro por se haver tornado potencial gerador de consequências negativas imprevisíveis. Duas filosofias tidas por mutuamente excludentes não terão muitas alternativas de sobrevivência nos moldes em que foram concebidas; restarão antagonizadas, ainda assim, no concerto das relações internacionais, se não provocarem dependências formais e explícitas. Populações capitalistas e socialistas esperam por respostas que muito dificilmente poderão ser dadas nos termos habituais, salvo no exercício de uma parceria que subordine as populações gerais, inevitavelmente estabelecendo uma nova ordem mundial e conduzindo naturalmente, talvez a médio, seguramente a longo prazo, à consolidação política do poder econômico, realização do enunciado de Carl Oglesby, falecido em 2011: Poder econômico é poder político e poder político é poder total. Fala-se, aqui, da união de forças produtivas que, juntas, geram mais de 50% do PIB do planeta.

Caminhamos para a lei da selva econômica? Já não estamos respirando uma atmosfera em que o conceito de segurança terá desbordado da só prevenção de ataques para ingressar de forma definitiva no controle dos avanços tecnológicos dos povos e, senão das consciências, no controle das ações e palavras dos cidadãos em geral?

A Economia líder está esgotada; operando historicamente no limite, haveria de chegar o momento em que a manutenção do padrão, ao lado da expansão demográfica inercial e do teto estabelecido pela equação capital x meios/fins de produção x mercados, sofreria impactos paralisantes, criaria um nó apenas desatável com a adoção de métodos heterodoxos cuja natureza impositiva não levaria em conta senão o fim proposto, descartando quaisquer outras considerações. Os agentes de tais potenciais mudanças de longo tempo percebem-nas com crescente preocupação, preparando-se por todos os meios e modos para conter ou responder quaisquer reações com a força necessária, ou mesmo excessiva, como demonstração de poder e para desencorajar novas ‘insubordinações’, conforme as circunstâncias. Madame está convidada, uma comissão a ser formada a antecipará; ouvirão as melhores explicações possíveis, propostas, quem sabe?, mas quaisquer práticas em curso não se modificarão, é questão de sobrevivência, de observar o compromisso auto-imposto, política de Estado à qual líderes de momento não se poderão furtar sejam quais forem suas convicções pessoais. O recentíssimo pedido de concordata e o estado entrópico do ente coletivo é um alerta vermelho, algo definitivamente não desprezível a demandar urgências.

Com a Europa não é diferente – ver posts de 13, 17 e 21 de Agosto de 2011, 4 e 28 de Janeiro de 2012, entre outros. A União Europeia simplesmente não tem alternativas. Para fixar um ponto: Até Sarkozy a França resistiu embalada pelo sentimento nacional emerso dos excessos, mas também do completo desmanche do absolutismo pela Revolução. O ‘sim, eu posso’, articulado por primeiro em bom Francês a partir do individualismo consagrado na Sociedade livre que se seguiu a 1789, independente, inegociável, orgulhoso – sem soberbia – de sua cultura e tradições, foi afastado pela tímida ou meramente formal reação de Hollande, eventualmente explicável por duas alternativas possíveis: (1) Sabia o que estava acontecendo, mas não se sentiu em posição de reagir adequadamente, do ponto de vista da tradição libertária da França ; (2) Mesmo sabendo o que estava acontecendo, não o animou uma reação forte. Tornou-se dependente. Também – ou talvez – por questão de sobrevivência. Nem sempre as razões do estômago são discutíveis.

Fechando as proposições alinhadas, a questão mais urgente e próxima é a unidade política da União Europeia e a estabilidade ou sobrevivência do Euro, uma só e mesma coisa, considerando haver o segundo sido ideado como fator catalisador da primeira; além disso, o próximo movimento nesse tabuleiro de xadrez – o mercado comum USA/União Europeia – é bem mais perverso do que qualquer divergência quanto ao Euro se nos permitirmos imaginar haver a União Europeia sido concebida para ombrear-se à grande potência emersa da segunda guerra mundial. USA, eles próprios, provavelmente se inclinarão por acordos em separado, mesmo dentro da estrutura do mercado comum, com países-membros, esfacelando de vez a UE. Não é malícia, é, também neste caso, questão de sobrevivência; se não abrirem novos mercados com grande capacidade de absorção dos seus produtos, sua economia, reitera-se, esgotada nos limites atuais, não terá qualquer chance. Se abrirem, e estes mercados forem europeus, a economia da UE será simplesmente engolida pela economia americana. Os economistas clássicos possivelmente verão nos acordos em separado a oportunidade de estabelecer linha direta com o grande parceiro do outro lado do Atlântico. É esperar para ver. Tendo em mente a Política de Portas Abertas, na raiz das ações americanas desde quando se decidiram pelo internacionalismo, eu gostaria, por todas as razões, de ver a França fora disso. Não consigo imagina-la dependente, seja do que ou de quem for.

(segue)

E AS POMBAS? TAMBÉM ELAS NÃO VOLTARÃO MAIS?

15 segunda-feira jul 2013

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Big Brother, george orwell

A VERDADE.001

Segunda-feira, um lindo fim de manhã em meados de Julho. A brisa fresca vinda do mar e os 18 graus centígrados sob o suave e luminoso sol do inverno tropical, mais a quietude, formam um quadro perfeito de paz. Paz?

De Candole disse, de um quadro como esse, tratar-se de mera e superficial aparência. Nos desvãos da natureza organismos travam uma guerra permanente na qual se ‘entredevoram’ em combates surdos e cruéis, não percebidos a olho nu e apenas revelados por lentes especiais.

Nos desvãos deste nosso mundo os combates são, também, permanentes e, de igual modo, apenas lentes especiais são capazes de revelá-los. Escrevi aqui em 10 de Janeiro de 2011 – É Longo, Para Ler aos Pouquinhos, com Calma e Refletir:

“O 1984, de Orwell, chegou ― George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nascido em Motihari, Bengala, em 1903, e morto em Londres em 1950. E nem tanto assim de Orwell, porque estou falando de um 1984 não-oficial, clandestino, paralelo, por isso, mais que o original, indecentemente criminoso.

Quaisquer lugarejos, vila ou cidade podem estar compreendidos no Megabloco da Oceania e Winston, o Censor encarregado de conter as manifestações dos opositores da crimideia, grave delito de pensar errado — como Smith —, diversamente da orientação do Partido, e de denunciá-los à Polícia do Pensamento ― extensão do Big Brother, o supercomputador ao qual se conectavam câmeras e microfones instalados por toda parte, residências inclusive ―, pode estar encarnado nos bedéis do Sistema, protagonistas de uma grande brincadeira sem graça da qual aparentam gostar muito — violação de e-mails e de residências de cidadãos honestos, bisbilhotar e copiar arquivos dos seus computadores.

Os ossos de Orwell/Blair devem estar sacolejando em seu jazigo, sua voz, de onde estiver, ecoando nas consciências de quem ousa pensar fora do padrão:

― Eu avisei!!!

A crimideia está aí, mais presente do que nunca; a punição para ela, nestes tempos de patrulhamento sectário é dissimulada, indireta ― em certos ambientes e épocas são ou foram diretas e ostensivas ―, cruel para quem não tem estrutura para resistir a pressões ou à perfídia.”

A observação sugere que, em termos de países, todo mundo sempre espionou todo mundo; os serviços de informação nunca existiram para acompanhar corridas de bigas, os últimos lançamentos da indústria cinematográfica ou catalogar estrelas. Essa atividade, porém, graças aos avanços tecnológicos, alcançou dimensões assustadoras, intercontinentais, planetárias com os satélites espiões e de comunicações. Nada ou ninguém, em qualquer recanto da Terra, está a salvo da bisbilhotice, seja ela factual ou institucional.

O Sistema – queira ver no blog, logo após o trecho acima transcrito –, desenhado para criar dependências, tem os seus ‘combatentes’. É decepcionante ver pessoas talentosas a quem assistimos há anos esforçando-se para ridicularizar os próprios países; é com certo mal-estar ler-se pessoas inteligentes e cultas minimizando as gravíssimas denúncias veiculadas por órgãos absolutamente idôneos, dos quais, às vezes, podemos discordar politicamente, mas cuja credibilidade em momento nenhum é posta em cheque. Pela visão de tais pessoas é como se o denunciante houvesse decidido, por brincadeirinha, atirar toda a sua vida, família, trabalho, amigos, pela janela, renunciar à sua privilegiada posição num país formidável, poderoso, de enraizada tradição democrática por pura adrenalina, só para experimentar emoções novas, eletrizantes.

Intuo, a partir de análise preocupada do panorama geral, que o mundo precisa dar uma paradinha para pensar, ajuizar do clima de insegurança e incerteza geral criado a partir da constatação do fato de não passarmos, todos, de marionetes, algumas contentinhas, ansiosas por serem manipuladas.

Estamos assistindo à revoada dos falcões. A incerteza é total.

(segue)

VÓ, AS ANDORINHAS NÃO VOLTARÃO MAIS?

08 segunda-feira jul 2013

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Andorinhas

Aos 91 anos, Dona Maria Eduarda é uma mulher saudável nos seus cerca de metro e oitenta distribuído por um corpo longilíneo, vestido habitualmente com o atributo da elegância despojada, às vezes em saias longas até os tornozelos, que lhe caem muito bem. Apoiando-se na fina bengala já incorporada á sua figura, os olhos claros e atentos cravados num rosto algo alongado e expressivo emoldurado por cabelos quase louros e lisos a lhe alcançarem os ombros, caminhava, espigada, naquela tarde ao encontro da neta no bosque em frente à igreja dos franciscanos, do outro lado da larga avenida por onde, em ritmo intenso, o trânsito flui do/para o centro da cidade. Criara a neta, agora uma bonita mulher de 38 anos, desde os 2 anos de idade, com amor e cuidados num relacionamento aberto e franco, exceto quanto ao filho e sua mulher, Florence, pais de Vânia. Nunca falaram sobre eles, nunca derramaram uma lágrima, por eles ou por qualquer outra razão; não eram mulheres sem emoções, mas galvanizadas pelo sofrimento, pelo desencanto.

– Ôi, vó! Senta aqui ao meu lado, já limpei a poeira do banco.

– Ôi, Vaninha! Como estão as crianças e o Alberto?

– Bem, vó, o Albertinho pegou uma gripezinha, mas já está melhor. E a Senhora?

– Estou bem, querida, e especialmente aliviada desde o momento em que saí de casa para encontra-la, falar-lhe.

– Algum problema, vó?

– Sim e não; o momento pelo qual estamos passando sugeriu-me ser hora de falarmos sobre seus pais.

Vânia empalideceu; muda, o coração disparou. Perscrutaram-se por um momento inadvertidamente longo, uma espécie de letargia. Dona Maria Eduarda rompeu, firme, o torpor:

– Seus pais eram professores dedicados, lecionavam o dia inteiro em 3 colégios, bons cidadãos, bons profissionais, saíam juntos de casa todas as manhãs, você ficava comigo até à noite, quando voltavam. O Sérgio me lembrava muito seu bisavô, meu pai, e nunca me saiu da cabeça, em momento nenhum. Quando voltava do trabalho, sempre que aparecia eu sentia nele a alegria das andorinhas que, em bandos, seu bisavô me levava para ver nos campos em volta da cidade onde morávamos; na chegada da primavera voltavam voando em zigue-zague numa revoada alegre e barulhenta, como se festejassem a luz clara dos dias mornos de setembro, celebrassem a vida.

Fez uma pausa, a voz lhe faltara; Vânia baixara a cabeça, nada disse. Dona Maria Eduarda tomou fôlego; antes de recomeçar, mão direita fechada, o polegar sobre o dedo indicador ligeiramente encurvado, tocou por baixo o queixo da neta e ergueu-lhe a cabeça, levantando-lhe o olhar, impassível, posto depois em ponto indeterminado à frente, espelhando, talvez, alguma dor.

– Um dia saíram de casa cedo, como de hábito, e não voltaram. Procurei-os inutilmente. Sofrida, para suportar a dor da ausência, alimentei durante todos esses anos a fantasia, pura fantasia, de que, de repente, a porta se abriria e eles entrariam, alegres, chilreando, minhas andorinhas.

Calou-se por um momento, depois prosseguiu:

– Há pessoas muito difíceis de serem entendidas como seres humanos. A liberdade dos outros parece incomodá-las, o direito de opinião, de ir-e-vir sem entraves, à privacidade, à intimidade, ao direcionamento da própria vida irrita-as. São dadas a extremismos, ao linchamento moral e público, generalizado, não conseguem conviver com ideias diferentes das suas, são arbitrárias, sectárias, impositivas e maliciosas. É penoso para elas compreender como possa alguém verberar radicalismos à esquerda ou à direita, quem privilegie o equilíbrio, a lei, o respeito às instituições, o decoro, a moral e a ética. Para esses seres humanos incompletos pessoas assim, que não rezam por suas cartilhas, devem ser anuladas, perseguidas, detratadas, desmoralizadas; é a lógica primária do quem não esta com eles é contra eles. Pior: Quando os ‘rebeldes’ não se deixam intimidar, aumentam a irritação desses tipos esquisitos que não respiram direito em uma atmosfera democrática, em um ambiente de livre expressão, de prevalência dos direitos humanos, da Constituição, da lei. Nesse clima estão permanentemente de mau humor. Não se os há de temer, mas é preferível não atiçar-lhes os instintos; conhecem muito bem a linguagem da intriga, da mentira, da dissimulação, da astúcia, da violência, sua preferida, da covardia. Aderem prontamente a qualquer ação com essas características identificada com suas tendências.

Fez-se nova pausa, de sofrimento evidente. Dona Maria Eduarda abriu a boca para continuar, Vânia antecipou-se:

– Vó, as andorinhas não voltarão mais?

A resposta da velha senhora traduziu-se num soluço convulso; ela abraçou apertadamente a neta, encostou o rosto no dela, sentiu-lhe as lágrimas quentes, fartas, como as suas. E, juntas, choraram pela primeira vez em 36 anos. Por si próprias. Pelas andorinhas.

ESTAVA ESCRITO (final)

01 segunda-feira jul 2013

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Queira ver www.facebook.com                                                                   (Linha do Tempo de Onair Nunes da Silva)

O modelo consolidou-se, o tempo correu.

Então, o Santo de Assis. Ao longo da história do cristianismo terá sido aquele mais próximo de Jesus, por suas práticas, pela sua figura, pelos seus adeptos empenhados em um movimento de renascimento religioso e cultural de alto teor espiritual que se bifurcou em duas correntes: uma, anticlerical, produto da insatisfação crescente entre religiosos de pendor místico, empenhou-se na volta do cristianismo às origens, à sua natureza e inclinação para o autêntico apostolado. Nessa corrente despontou, na segunda metade do século XII, Joaquim de Flora, autor da teoria das três Idades da Igreja, a Idade do Pai, terminada com Jesus, a Idade do Filho, a baixa Idade Média, em que vivia, e a Idade do Espírito Santo, que deixaria para trás o clero tal como se apresentava, o papado e os doutores da Igreja pela revelação do Evangelho Eterno, doutrina espiritual orientada por forte apelo antidogmático; e outra, reformadora, empenhada na renovação da religião pelo arejamento da doutrina, obscura e elitista, e pela volta ao despojamento e ao essencial, à simplicidade dos hábitos e à virtude da oração espontânea e sem fórmulas, maneira direta de comunicação com Deus inspirada em Jesus. Nessa vertente surgiu com o Santo de Assis uma fraternidade de laicos que corporificou  o ideal evangélico, rejeitou a autoridade da Igreja e sinalizou o advento da Idade do Espírito Santo, com ele iniciada no começo do século XIII, amparada em uma pequena parcela dos Evangelhos canônicos.

A irmandade de Francisco, Francesco, incomodou a Igreja e confrontou suas regras austeras com alguns dos que lhe foram mais próximos. O ano de 1221 marcou o início da intervenção papal; em 1223, três anos antes da morte do santo homem, no papado de Honório, a mão eclesiástica se abateu pesada sobre o sonho franciscano de viver como idealizara haver vivido Jesus, livre para Deus, desligado dos bens materiais e das coisas mundanas. Prevaleceu o poder da Igreja.

À morte de Francisco em 1226 sucederam-se acirradas disputas pela liderança do movimento, de um lado os defensores do projeto inicial convolado em núcleo espiritual de uma igreja renovada na qual o santo, segundo sua crença, desempenhava o papel representado por Jesus frente a  seus seguidores, e de outro papalistas aspirantes à pompa e ao prestígio eclesiásticos. Estes, com amparo na lógica religiosa, começaram a demolir a Irmandade ideada por Francisco de Assis para dar lugar a uma Ordem monástica inteiramente subordinada às regras gerais aplicadas às Ordens seculares, alijados os preceitos de pobreza, humildade e caridade originais. Em 1232 Elias de Cortona, um dos primeiros companheiros de Francisco e um dos que defenderam a secularização iniciou uma sistemática repressão aos espirituais. No final do século XIII foi criada para eles, por Celestino V, a Ordem dos Eremitas Pobres, que os isolou; logo depois, no entanto, Bonifácio VIII os reintegrou à Ordem Franciscana, onde permaneceram até João XXII declarar em 1316, quando iniciou seu papado, ser herética a posição dos espirituais segundo a qual Jesus e seus companheiros não possuíram bens materiais. Os quatro mais destacados membros do grupo foram entregues à Inquisição italiana, que os julgou, condenou e executou numa fogueira em Marsília no ano de 1318. Os restantes foram mais tarde subordinados às regras das Ordens Mendicantes.

ESTAVA ESCRITO:

(1) Eis que um rei reinará segundo a justiça, e os príncipes governarão com equidade.
(2) Cada um deles será como um abrigo contra o vento, um refúgio contra a chuva torrencial, como um fio de água num chão ressecado e como a sombra de um alto rochedo em terra ressequida. (3) Os olhos dos que enxergam não mais serão ofuscados e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos.
(4) Os espíritos insensatos dispor-se-ão a compreender e a língua dos gagos falará prontamente e com clareza; (5) não mais se qualificará de nobre ao perverso, nem ao trapaceiro de grande. (Isaías, Capítulo 32)

Então Francesco, Francisco, guardadas as proporções Francisco/Francesco redivivo, a volta do cristianismo às origens, à sua natureza e inclinação para o autêntico apostolado, o ser humano sua meta.

Já se vê; Francesco/Francisco é muito importante, por princípio para os que creem, por esperança e fé para os demais. O mundo será melhor com ele.

Ave, Francesco/Francisco!

(6) Porque o insensato profere loucuras e seu coração dá-se ao mal; comete impiedades, forma sobre o Senhor conceitos errôneos, deixa o faminto queixar-se de sua miséria, priva da bebida aquele que tem sede. (7) As intrigas do trapaceiro são desleais, ele maquina desígnios criminosos para perder os humildes com mentiras, assim como ao pobre que aspira ao seu direito. 
(8) O fidalgo, porém, tem pensamentos dignos e um procedimento nobre. (Isaías, Capítulo 32)

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